Adaptações de ícones pops, principalmente de materiais orientais, são difíceis de agradar. Quando anunciada uma adaptação hollywoodiana do clássico mangá e anime japonês, Ghost in the Shell, várias foram as polêmicas. Desde o famoso “vão estragar o material“, ao mais problemático e controverso whitewashing (como é chamado o ato de escalar atores caucasianos para interpretar personagens de etinias diferentes) após a escalação de Scarlett Johansson para assumir o posto de Major.
A parte as polêmicas, o filme foi ganhando a curiosidade do público com as artes conceituais e cenas que foram sendo liberadas no processo. E é preciso dizer que as semelhanças com o material base vão além da abertura com a construção do corpo de Major liberada há alguns meses. Com elementos tanto do anime de 1995 (Fantasma do Futuro) quanto do de 2004 (Fantasma do Futuro 2: Inocência), o design de produção do filme é o que você vai ver de mais incrível desde Matrix. Cada cenário, efeito robótico, hologramas espalhados na cidade de um futuro distópico é um deslumbre visual complexo e bem cuidado.
Baseado no mangá de Masamune Shirow, publicado entre 1989 e 1991, e lançado no Brasil pela primeira vez em 2016 pela editora JBC, o filme conta a história de Major (Scarlett Johansson), um ser com corpo robótico e cérebro humano, criado para ser uma arma e liderar o Setor 9, que cuida da segurança da cidade e age contra terroristas de qualquer natureza. Por não ter uma lembrança completa e significativa de seu passado, Major vive questionando o seu lugar no mundo, se ela é apenas uma máquina ou uma alma (Ghost) presa numa concha (Shell).
O roteiro, apesar de semelhante com o mangá e o anime, toma suas liberdades e faz alterações em prol do didatismo hollywoodiano. E esse é talvez um dos grandes problemas do filme, visto que há uma necessidade demasiada em explicar conceitos e mastigar certas coisas para o público. Então, apesar de todo o visual fantástico, falta um pouco de originalidade ao filme.
Apesar de Michael Pitt ser apresentado como o vilão Kuzo (personagem esse fictício derivado de alguns vilões do anime), ele não é o único e, provavelmente, nem o mais importante. E isso também enfraquece o filme. Diferente do anime – e essa é apenas uma comparação de sensações e não necessariamente de execução – não temos a sensação de perigo iminente no filme. As ameaças são diluídas nas explicações e questionamentos da protagonista. As resoluções parecem simples apesar de estar lidando com uma organização ligada ao governo. Não há um personagem que chegue a ameaçar realmente a Major, ao menos nenhum que nos passe isso com a mesma força que a protagonista.
Apesar desses problemas no roteiro, o mesmo é inteligente ao contornar (e até mesmo explicar) a polêmica com o whithewashing na escolha Johasson, bem como em se utilizar de elementos de filmes de ação para encaixar uma sequência talvez ainda mais interessante se bem realizada.
Aliás, o elenco é extremamente diversificado. Temos o dinamarquês Pilou Asbæk como Batou, o fiel companheiro de Major, a francesa Juliette Binoche como dra. Ouelet, criadora da Major, o japonês Takeshi Kitano como Aramaki (todas as suas cenas inclusive são faladas em japonês), o singapurense Chin Han como Togusa, entre outros.
Para um material que inspirou filmes como Matrix das irmãs Wachowski, falta um pouco mais de originalidade e profundidade na versão americana de Ghost in the Shell. Temos uma performance convincente de Scarlett Johansson com seu andar robótico e seus olhares distantes, um visual estonteante, mas fica a sensação de que falta algo.
“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” estreia hoje, 30 de março de 2017, e está disponível em cópias 2D, 3D e IMAX.
Nota: 7.5
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