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Crítica | Fala Comigo (2017)

O primeiro longa do carioca Felipe Sholl ganhou o Festival do Rio de 2016 como melhor filme de ficção, e chega hoje (13) aos cinemas, “Fala Comigo“, distribuindo temas tabus.

No filme, o estreante Tom Karabachian é Diogo, jovem de 17 anos que tem o peculiar fetiche de se masturbar ligando para as pacientes de sua mãe, a psicóloga Clarice (interpretada por Denise Fraga). Entre as ligações, Diogo acaba se envolvendo com Ângela (Karine Teles), uma mulher de 40 e poucos anos passando por um divórcio e que encontra-se depressiva e com tendências suicídas.

A partir daí o filme se desenvolve de maneira muito natural e sem julgamentos, o que é um mérito do filme, pois não há um aspecto inquisitor do ponto de vista da direção em nenhum dos lados, nem conceitos definidos de certo e errado ditando regras. A direção propõe uma visão bastante interpretativa para o público, deixando que a gente idealize determinados caminhos a seguir, até mesmo torcendo (ou não) pelo casal central.

Tom Karabachian como o protagonista Diogo em cena de “Fala Comigo”.

Tudo isso é também acerto do roteiro, este novamente sob o comando de Sholl. Porém nem tudo são flores aqui. Apesar da complexidade criada para os personagens, trabalhando bem quase todos eles, alguns elementos inseridos – por mais que possa ser a intenção do diretor – fazem falta um melhor desenvolvimento durante a trama. Muitos conflitos são lançados durante o filme além do foco principal que é a relação entre uma mulher mais velha e um garoto de 17 anos. E todos eles são tão interessantes pela maneira que são estruturados que dá vontade de saber um pouco mais, conhecer mais a fundo. A família de Diogo é completamente disfuncional. Clarice é uma psicóloga que atende em casa e que negligencia completamente sua família (aliás, todos se negligenciam aqui em maior ou menor grau de intensidade). Seu casamento com Marcos (Emílio de Mello, pouco aproveitado aqui) está desmoronando, sua filha mais nova é hipocondríaca, e seu filho rouba fichas de pacientes para se masturbar ao telefone. Só esse núcleo familiar já daria um outro filme. Outros aspectos são pincelados como a descoberta da sexualidade (hetero e homo) na juventude e suas experimentações.

Contudo, esse “excesso” não chega a prejudicar o filme. Um outro ponto alto é a escolha do elenco. Quando o roteiro vacila é o elenco que segura e leva o filme de volta aos trilhos.
Denise Fraga traz uma personagem interessante numa seriedade perdida entre a mãe a profissional. Os melhores momentos da personagem sem dúvida são quando precisa se colocar entre a maternidade e a ética de sua profissão. Aliás, é necessário abrir um parênteses para explicitar que Denise é uma excelente atriz que muitos conhecem apenas por seus papéis em comédias, que são ótimos, mas ela não deixa nada a desejar no drama (vide “Hoje” de Tata Amaral de 2013).

Denise Fraga e Emílio de Mello como o casal Clarice e Marcos em cena de “Fala Comigo”.

Tom Karabachian tem a responsabilidade de já despontar como protagonista e não faz feio. Ele transmite bem o conflito adolescente de descoberta da sexualidade e ao mesmo tempo a falta de maturidade que o papel pede. É interessante ver o contraste entre seu personagem e o de Teles em cena. Mas o destaque é sem dúvida Karine Teles. Vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival do Rio de 2016, ela já havia demonstrado seu talento como a patroa de Val (Regina Casé) em “Que Horas Ela Volta?“, sucesso de crítica mundial dirigido por Anna Muylaert em 2015. Mas aqui é sua vez de brilhar. Com uma personagem tridimensional, ela faz o percurso contrário de muitas personagens que acabam se desconstruindo durante o filme para entregar certas fragilidades. Aqui ela começa desconstruída e vai juntando os pedacinhos que Sholl entrega no roteiro para criar uma entidade ainda maior e mais complexa. Em quase todo o primeiro ato do filme ela praticamente só contracena com um telefone e uma respiração do outro lado da linha.

Karine Teles como Ângela em cena de “Fala Comigo”.

Fala Comigo” é uma frase repetida por algumas vezes durante o longa e que nos coloca para refletir sobre diversos assuntos íntimos que não necessariamente está ligado ao tema central do filme. É um filme que vai incomodar muita gente e que dará uma abertura a entendimentos e interpretações diversas sobre as atitudes dos personagens, assim como  é na vida. É um filme sem julgamentos que será julgado por muitos.

Nota: 7.5

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