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Ponto Final – Match Point

O Niilismo de Woody Allen

Woody Allen é mais conhecido por fazer grandes comédias com seu alter ego neurótico e também por fazer filmes que exaltam e contemplam a beleza de Nova York. Porém, em Match Point (2006), não vemos nenhuma dessas famosas facetas desse grande diretor. Aqui, Wood Allen nos presenteia com um grande drama – gênero que já flertou algumas vezes em sua extensa carreira de diretor voraz que produz um filme por ano – e, como em poucas vezes em sua trajetória cinematográfica até esse filme, Allen foge do cenário nova-iorquino, escolhendo Londres como plano de fundo da trama.

Em Match Point, Woody Allen nos prova sua capacidade de se reinventar como diretor. O filme inicia com um voice-over afirmando que o homem que disse “eu prefiro ter sorte do que ser bom” enxergou profundamente a vida. Essa é a voz de Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers), um ex-tenista que, sem esperanças de ser bem-sucedido na carreira, aceita um emprego em um clube de tênis. É nesse clube que ele conhece Tom Hewett (Metthew Good), um jovem da classe alta londrina que se afeiçoa rapidamente por Chris e logo se tornam amigos. Tom apresenta para Chris sua irmã Chloe Hewett (Emily Mortirmer) e pouco tempo depois, começam a namorar.  Tudo parece correr bem em seu relacionamento, Chris parece ter um futuro promissor entrando para essa família, mas em uma reunião familiar, ele conhece Nola Rice (Scarlett Johansson), a sexy noiva de Tom. Chris de repente se vê extremamente fisgado pela sensualidade da americana e depois que ela termina seu noivado com Tom, se envolvem em um caso. Após um acontecimento, Chris se vê dividido entre deixar Chloe e sua vida bem-sucedida, e viver sua paixão com Nola sem estabilidade financeira.

Depois de mais de uma hora dedicada a construção de sua trama e estabelecimento dos personagens, com grandes diálogos e atuações que transmitem muito bem ao espectador o caráter dúbio e as incertezas desses em relação a vida, Woody Allen nos escancara sua tese. Match Point pode ser visto como uma espécie de “Crime e Castigo” de Allen. Desde o começo, o filme nos traz referências do escritor russo Fiódor Dostoiévski, como na cena em que enfoca Chris lendo o clássico livro. Mas não se engane, se “Crime e Castigo” traz a reflexão moral sobre a culpa, peso na consciência e redenção cristã por meio do arrependimento, em Match Point, Allen nos apresenta sua própria visão sobre esses temas existenciais.

Há justiça no mundo? Quais são os valores que nos movem? No século XXI Deus está morto. Estamos à mercê da sorte. Os interesses pessoais estão acima de valores éticos e morais. No jogo da vida é cada um por si, os fins justificam os meios e não há nada nem nenhum ser para nos julgar e castigar.

Match Point traz questões existenciais pertinentes da vida humana e merece ser visto, refletido e discutido. Woody Allen coloca em Match Point sua marca niilista, presente em grande parte de sua obra, e, nos deixa a mensagem de que a vida não tem sentido. O acaso é que dita as regras do jogo.

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Thiago Henrique Muniz

É estudante de Comunicação Social, cinéfilo, filósofo de boteco e gosta de escrever nas horas vagas

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