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Crítica | Atômica (2017)

Quando o trailer de Atômica surgiu na internet meses atrás, o filme logo tornou-se um dos destaques em muitos dos calendários de cinéfilos ao redor do mundo. A promessa de um conto de espiões tendo como palco as vésperas da queda do Muro de Berlim, com uma ação sangrenta a lá Kick-Ass e protagonizado por Charlize Theron, é uma proposta tentadora que possui todos os ingredientes para ser icônica.
Há muitas coisas que Atômica faz muito bem. Primeiro há a aparência geral do filme – tudo aqui grita estilo. É perfeitamente estilizado. A partir da filmagem do arquivo configurando a cena, a sequência de perseguição em Berlim, a narrativa de quadro saturada de Londres, seguido da grafia de estilo graffiti que aparece por toda parte, é um filme que conhece sua imagem, sua marca e a vende apropriadamente. Isto é simbolizado também pelo excelente trabalho do departamento de figurino. Frequentemente são as roupas de Theron que roubam a cena. Seus trajes e sapatos são extremamente ousados sem deixar de ser coerente com a época em que o filme se passa. Saltos espinhosos de todos os comprimentos e alturas, casacos ajustados e cortados com perfeição.
Charlize Theron e James McAvoy em cena de “Atômica”.
Os saltos chamativos e a bela imagem não simbolizam toda a personagem de Charlize Theron, que é fria como o gelo e longe de ser agradável. Charlize é uma espiã da inteligência britânica enviada a Alemanha para recuperar uma lista vazada por um traidor que contém informações que podem mudar brutalmente os rumos da Guerra Fria se cair em mãos erradas.
Sua missão acaba lhe causando situações onde são necessárias lutas e acrobacias intensas a altura de Bond e Bourne, se não até melhores! É muito claro a partir da cinematografia do filme o quanto Charlize realmente empreendeu na produção: não há cortes ou close-ups desnecessários nas partes do corpo feminino (que, sem dúvida, pertencem a um dublê de corpo em várias cenas) como infelizmente acontece bastante em Hollywood. Todos os seu socos e tiros são mostrados de forma corajosa e competente, sem a necessidade de sexualizar o trabalho primoroso da atriz.
Charlize Theron e Sofia Boutella em cena de “Atômica”.
Há um plano sequência de dez minutos (sequência gravada de forma contínua por uma mesma câmera, sem cortes) de luta gloriosamente brutal e sangrenta que mostra o status do trabalho do diretor David Leitch (de “V de Vingança” e “John Wick“) em parceria com Charlize. São dez minutos intensos onde a câmera passa por mais de um andar de um prédio sem desfocar na ação desenfreada da personagem lutando contra vários homens. Sem dúvida é uma sequência para ser discutida na mesma palestra de estudos de filmes como Rope (Hitchcock, 1948) e Victoria (Sebastian Schipper, 2015) para a abordagem perfeita de utilizar a tomada longa.
Atômica é um filme elegante ao mesmo tempo que é bruto. O fato de possuir diversas cenas agraciadas por uma ótima playlist musical a uma câmera de mão, mantém a ação dinâmica, forçando o espectador a ser cúmplice em cada soco e pontapé. Porém, infelizmente, a narrativa da trama de espiões não consegue seguir sempre esse dinamismo e acaba se perdendo sem o auxílio das sequências de ação.
Sequência de luta de “Atômica”.
O filme é  essencialmente um flashback, relatando os eventos da missão na Alemanha aos seus oficiais superiores. Seu recontar é frequentemente interrompido com retornos na sala de entrevistas com instruções para mais detalhes. É uma característica perturbadora que reforça a principal falha do filme que, embora possa ter uma ótima história, seu enredo é complicado e mal construído. Não há espaço para a sutileza aqui.
O fato da personagem de Charlize Theron ter realizado grandes feitos e reviravoltas, mas com pouca caracterização ou detalhe, é outra característica frustrante. No entanto, se você gosta de blockbusters que favorecem o estilo sobre a substância, diversão em relação à funcionalidade e com um estilo autoral, você não encontrará um filme de ação mais divertido e elegante que Atômica.
Nota: 8.0
Atômica estreia nos cinemas brasileiros dia 31 de agosto.

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