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Crítica | Entre Irmãs (2017)

Breno Silveira volta ao sertão e faz um ótimo trabalho… se fosse um minissérie televisiva.

Entre Irmãs, novo filme de Breno Silveira (2 Filhos de Francisco, Gonzaga: De Pai Pra Filho), revisita o sertão pernambucano abordado em Gonzaga, mas com um viés completamente diferente: o cangaço. No longa vemos a história de duas irmãs, Luzia (Nanda Costa) e Emíilia (Marjorie Estiano), nascidas no sertão e criadas por uma tia. Enquanto uma sonha em casar e ir embora pra cidade grande, a outra é mais pé no chão, mais selvagem. Tudo muda com a chegada de Carcará (Júlio Machado), líder dos cangaceiros que leva embora consigo Luzia. Com o desaparecimento da irmã, Emília acaba por realizar seu sonho se casando com Degas (Rômulo Estrela), rapaz da alta sociedade de Recife, e indo embora com ele para cidade.

Marjorie Estiano, Cyria Coentro e Nanda Costa em cena de “Entre Irmãs”.

E aí começam os problemas. O filme é inchado. São quase três horas de duração com tantas histórias e tantos acontecimentos que, muitas vezes, são completamente desnecessários. Não que o filme seja um completo desastre, ele não é. A história – que é uma adaptação do livro A Costureira e o Cangaceiro, da pernambucana Frances de Pontes Peebles – é interessante, assim como boa parte dos personagens. Mas o filme se explica a todo momento, deixando tudo didático demais. Fora a característica novelesca de que tudo precisa ser mostrado. Não é preciso pensar muito aqui, a direção faz questão que vejamos absolutamente tudo, exatamente como numa novela. Então o filme seria muito mais bem sucedido como uma minisséria da Globo, o que provavelmente vai acontecer, e nesse formato a história é acima da média, mas não funciona tão bem para o cinema.

A história é emocionante e o elenco é um dos fatores responsáveis pela emoção dada. E talvez esse seja o maior acerto do filme. As protagonistas de Nanda Costa e Marjorie Estiano brilham durante todo o tempo. Mesmo os coadjuvantes, que por vezes nem precisariam estar alí, dão uma vida a mais ao filme. Todos estão bem. O filme desenvolve muito bem quase que todos eles, porém isso também afeta um pouco a trama. Há muitas histórias sendo contadas, muitas informações. Algumas são levadas até as últimas consequências enquanto outras são abandonadas nos fazendo perguntar no que deu aquela sugestão lá do início do filme.
Falta desenvolvimento de ação e cenário no filme. A fotografia é linda, mas por vezes se mostra vazia, e quando isso acontece a direção completa essa brecha com música. A trilha sonora está presente de maneira pesada e constante no longa, dizendo a todo momento o que o espectador tem que sentir.

Cena de “Entre Irmãs”.

São praticamente dois filmes sendo assistidos paralelamente, onde um não precisava necessariamente encontrar o outro para desfechos que o “destino” reservava. O filme não sabe quando parar, onde deixar subentendido. De novo, ele vai te mostrar tudo. O nascimento, a vida, a separação, o abandono, a morte.
Há o drama das duas irmãs vivendo no sertão. Há o drama da separação com a ida de uma para o cangaço, outra para a cidade. Há o problema de adaptação de uma mulher no meio dos cangaceiros. O problema de adaptação da “caipira” recém chegada na alta sociedade. A questão do marido que não a toca por ter um relacionamento com outro homem. O envolvimento desta com outra mulher. São coisas demais e algumas até mesmo que se repetem com personagens diferentes.

Há também pontos duvidosos em algumas escolhas de cena. Apenas para exemplificar, há uma cena de sexo muito bonita entre duas personagens que serve como “motivo” para a compreensão e empatia para com a situação do marido ser homossexual e estar tendo que ir tratar sua condição como uma doença. O que acaba passando a mensagem de que para se solidarizar com a situação do outro é preciso se colocar na mesma situação, o que é errado. Isso poderia ser resolvido como um diálogo melhor escrito, mas não acontece, é quase como estar assistindo a uma novela em vários momentos. Falta cuidado. Falta lapidação.

Marjorie Estiano, Letícia Colin, Rômulo Estrela e Gabriel Stauffer em cenas de “Entre Irmãs”.

Apesar de todos os problemas, de ser um filme inchado e a direção pesar a mão em clichês e conclusões excessivas para tudo, o filme tem o mérito de ter um bom ritmo – o que é importante para um longa de 160 minutos -, um elenco impecável que entrega algumas cenas tão bonitas que dá vontade de enquadrar, é muito bem fotografado, mas eu ficaria muito mais feliz se tivesse visto desde o início como uma minissérie para TV.

Nota: 6.0

Entre Irmãs estreia hoje, dia 12 de outubro, nos cinemas.

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