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Crítica | O Destino de Uma Nação (2018)

As obras cinematográficas em si têm sido vítimas de um grande vício narrativo, especialmente naqueles que são considerados como longas-metragens biográficos: a de querer endeusar uma figura de grande repercussão mundial. Foi assim nos péssimos A Dama de Ferro (de Phyllida Lloyd) e Jobs (de Joshua Michael Stern), bem como no mediano Lincoln, filme que tem um dos inícios mais pífios da carreira do grande diretor de outrora Steven Spielberg, ao retratar um diálogo entre Lincoln e um afrodescendente (que lutava na guerra civil). Nele, o combatente recita um discurso que o ex-presidente yankee teria feito em uma de suas campanhas políticas, cena que se torna ainda mais indigesta depois que o soldado sai do primeiro plano, em meio aos seus companheiros de batalha, declamando as palavras proferidas naquele discurso do “Deus” Lincoln. Cena mais melodramática e, a meu ver, inverídica, não existe!

Em O Destino de Uma Nação (de Joe Wright, diretor dos ótimos Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação), obra que, querendo ou não, é biográfica, o roteiro de Anthony McCarten (responsável pelo não menos canonizador A Teoria de Tudo, de James Marsh.), retrata o período onde Winston Churchill (Gary Oldman, o eterno Sirius Black da Saga Harry Potter) se torna primeiro-ministro, passando pelo seu dia-a-dia familiar (desperdiçando o talento de Kristin Scott Thomas, O Paciente Inglês), sua bebedeira matinal e, o mais importante, dentro da II Guerra Mundial, devendo decidir sobre o destino dos 300 mil soldados britânicos encurralados nas praias francesas de Dunkirk.

O roteiro realmente é o grande problema aqui. Se o mesmo procurasse se preocupar apenas com o teor da guerra e tivesse esquecido a escalação de personagens que entraram na trama com o único intuito de humanizar (ao extremo) a figura de Churchill, talvez o resultado tivesse sido menos melodramático e mais realista, mais cru, assim como foi o alicerce desse filme: a II Guerra Mundial. Existe um exagero santificado que paira sob a figura biográfica tratada em tela.

Por outro lado, um dos poucos acertos de McCarten apenas acontece ao declamar um dos discursos mais legendários da história mundial, onde o grande Winston incentiva seus compatriotas a jamais se renderem, uma oratória inspiradora – pena que isso somente ocorreu nos últimos minutos do filme. Fazendo um link com outra cena marcante, a lição que foi dada pelo herói britânico: “você não negocia com um tigre quando a sua cabeça está dentro da boca dele”, ao defender fervorosamente a máxima de que os ingleses não deveriam entrar em acordo com a Alemanha nazista.

Em ambas as cenas Gary Oldman descarrega um potencial incrível, arriscando a dizer que, independentemente dos recursos de maquiagem, ele estaria desempenhando um dos melhores trabalhos de sua magnífica carreira. Sorte a dele que os recursos cosméticos são necessários para compor o papel, já que, além de impressionar, eles causam uma ótima surpresa. Aqui encontramos, sem dúvida, os grandes favoritos aos Oscar de Melhor Ator e  Melhor Maquiagem e Penteado.

Curiosidades a parte, a Academia já premiou Elizabeth II (Helen Mirren), George VI (Colin Firth) e Margaret Thatcher (Meryl Streep), chegou a hora de Winston!

Churchill: “Você não negocia com um tigre quando a sua cabeça está dentro da boca dele”

Outro artifício que não pode ser ignorado é a marcante fotografia do ótimo Bruno Delbonnel, responsável por grandes trabalhos em Harry Potter e o Enigma do Príncipe, Inside Llewyn Davis (ambos com a onipresente fumaça/névoa e escuridão que traduzem um efeito encantador) e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, com seus tons esverdeados. Ele emplaca sua 4ª indicação ao Oscar com O Destino de Uma Nação.

Ainda com trabalhos extremamente competentes no design de produção e figurinos, a grande decepção de uma produção tão rica, fica, de fato, a cargo do ponto de partida de qualquer produção: o seu argumento! O Destino de Uma Nação só não cairá no esquecimento por força da grande atuação de seu protagonista, da técnica apurada, bem como da significativa importância que Winston Churchill representa na história mundial.

Nota: 7,5

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