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Rick and Morty e o Absurdo da Vida

Vivemos em uma época de ouro das séries. Canais como HBO e Netflix lançam todos os anos séries de altíssima qualidade, o que nos dá a possibilidade de sermos mais seletivos ao que assistimos. Porém, mesmo com essa enxurrada de opções, desde Breaking Bad, nada que eu vi nos últimos anos causou tanto impacto sobre mim como a série Rick and Morty.

Rick and Morty é uma série animada de humor e ficção científica criada por Justin Roiland e Dan Harmon e exibida pelo canal Adult Swim nos Estados Unidos. O desenho acompanha um cientista alcoólatra detentor de um comportamento autodestrutivo chamado Rick, que mora na casa de sua filha Beth, junto com seu genro Jerry e seus netos Summer e Morty – que ele leva junto para perigosas aventuras pelo universo.

O roteiro de Rick and Morty é brilhante. Por baixo da sua camada de humor, o desenho expõe temas profundos como problemas familiares, niilismo e existencialismo. Tudo isso por meio de experimentações narrativas que só a animação é capaz de proporcionar.

Rick and Morty se passa em um multiverso, ou seja, existem infinitos universos, diversas realidades e dimensões paralelas. Rick é o ser mais inteligente desse multiverso. Ele criou uma “arma de portais” que o possibilita viajar rapidamente por diversas realidades e diferentes dimensões. Diante disso, Rick é um ser que conhece o universo em sua totalidade e tem plena consciência da insignificância de sua existência.

Rick está acima de todos os valores e de qualquer convenção humana como a cultura, religião ou moral. Se nada importa, ele pode fazer o que quiser. Suas opções são infinitas. Por conhecer o absurdo do universo, Rick abraça a indiferença. Porém, com tanta liberdade e possibilidades, o tudo pode parecer nada; é aí que surge a angústia.

Início dos spoilers – No episódio três da segunda temporada,“Assimilação autoerótica”, conhecemos por completo o lado niilista autodestrutivo de Rick. Nesse episódio, Rick, junto com seus netos, encontram uma ex amante sua chamada “Unidade”, que é uma entidade alienígena na qual possui uma espécie de “mente de colmeia” tendo assim a capacidade de controlar a mente de vários seres de modo simultâneo. Eles então vão para um planeta pacífico, onde não há nenhum tipo de distúrbio ou violência por estar sob o controle de Unidade. Porém, o que era o paraíso, se torna o caos. Rick fode com o planeta inteiro –nos dois sentidos.  Ainda apaixonada por Rick, Unidade realiza todos os seus pedidos e gradualmente vai perdendo o controle sobre o planeta. Em certo momento ela percebe que o comportamento autodestrutivo de Rick a afeta de forma negativa e decide deixá-lo.

De acordo com o filósofo existencialista Albert Camus, só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. No final do episódio, após ser deixado por Unidade, vemos pela primeira vez um Rick completamente entregue, vazio e depressivo. Vencido pela falta de sentido da vida. Se nem uma entidade superpoderosa capaz de controlar todo um planeta consegue conviver com ele e lhe dar uma vida boa, quem vai conseguir? Atormentado pela angústia, Rick tenta se matar com uma de suas máquinas a laser. No entanto, por puro acaso, a máquina falha e ele está bêbado demais para tentar novamente.

Se Rick é quase um deus que pode fazer praticamente tudo o  que quiser e está acima das convenções humanas, por que ele ainda mora na casa de sua filha? Com o passar dos episódios, descobrimos junto com o próprio Rick – mesmo que esse não queria admitir – que a felicidade e o sentido da vida não está no macrocosmo, mas sim no micro. O prazer de sua existência está nas pequenas coisas, no amor que ele tem pela sua família. É a experiência com sua filha e seus netos a motivação mais importante da sua vida. Vemos isso claramente no último episódio da segunda temporada, quando Rick abre mão de sua liberdade em troca da liberdade de sua família. – Fim dos Spoilers

Rick and Morty é um desenho genial que nos faz refletir enquanto nos conduz em uma montanha russa de emoções. Sua capacidade de tratar temas complexos da vida humana com humor e uma dose psicodélica a coloca no posto de uma das séries mais importantes produzidas nos últimos anos.

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Thiago Henrique Muniz

É estudante de Comunicação Social, cinéfilo, filósofo de boteco e gosta de escrever nas horas vagas

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