“Alguns políticos foram punidos, mas não todos” José Padilha e elenco falam sobre O Mecanismo, série Original Netflix

A convite da Netflix, o Cin3filia participou nos dias 14 e 15 de março, do lançamento da nova série original brasileira O Mecanismo, que estréia dia 23 de março na plataforma. Os eventos aconteceram no Belmond Copacabana Palace no Rio de Janeiro e contou com a presença de criadores, elenco e convidados especiais.

A série O Mecanismo tem como cerne de trama mostrar as bases da investigação do maior esquema de corrupção no Brasil, iniciado pela Operação Lava-Jato. Baseada em fatos e em personagens reais, a série tem como criadores o diretor José Padilha (Narcos, Tropa de Elite 1 & 2) e a roteirista Elena Soarez (Filhos do Carnaval, Eu Tu Eles). Além dos dois, também contam com nomes como os diretores Marcos Prado, Felipe Prado, Daniel Rezende em sua equipe. No elenco destacam-se artistas como Selton Mello (O Palhaço), Carol Abras (Avenida Brasil,) e Enrique Diaz (Justiça).

Na trama, o delegado aposentado da Polícia Federal, Marco Ruffo (Selton Mello), é obcecado para conseguir punir o doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz), com a ajuda de sua aprendiz Verena Cardoni (Carol Abras). Para conseguir atingir seu objetivo, ele acaba se deparando com condições complicadas e que a cada momento envolve pessoas com altas posições políticas e empresariais, colocando em risco não só sua investigação, como também sua segurança.

No dia 15 a Netflix organizou uma coletiva de imprensa que contou com a presença de equipe e elenco que responderam perguntas e explicaram um pouco da série.

Em um primeiro momento a jornalista Malu Gaspar da Revista Piauí, entrevistou o criador José Padilha e questionou sobre as bases que serviram de inspiração para o desenvolvimento do projeto.

As perguntas estão em negrito:

No caso do Tropa (de Elite), o filme termina e o sistema continua, no caso da lava jato você acha que é operação machucou o mecanismo de alguma forma e isso vai estar evidente na série de alguma forma? O sistema (dos filmes Tropa de Elite) e o mecanismo são a mesma coisa?

Quando o Nascimento está falando do sistema, ele está falando de uma coisa localizada da polícia, o mecanismo é uma coisa generalizada no Brasil. Se você olhar a política em outros países vão existir caso de corrupção. No Brasil a corrupção faz parte da lógica da política ela estrutura a política. Porque os partidos são financiados por empresas que prestam serviços ao Estado. Essas empresas financiam todos os grandes partidos, sem eleger um partido com afinidade ideológica, elas financiam todos os partidos simultaneamente. Os partidos que conseguem ser eleitos com financiamento das empresas, colocam pessoas em cargos chave da administração pública, um cargo que controla grande orçamento. A lógica da corrupção está determinando quem vai para o congresso e quem vai para qual cargo na administração pública.

A Lava-Jato vai punir o mecanismo?

Claramente ela já conseguiu que uma perna do mecanismo fosse punida, as empresas. Então a próxima grande empresa vai pensar muito antes de fazer o que a Odebrecht fez, isso é uma conquista da Lava-Jato. Alguns políticos foram punidos, não todos. Mas como os tribunais superiores são formados por indicações de políticos, evidentemente que eles são comprometidos. Será que essa outra parte do mecanismo vai ser punida? A gente vai saber no curto prazo.

Você acha que nessa história toda a Polícia Federal é um telespectador mais privilegiado, por isso sua escolha da profissão do protagonista?

Um policial federal investiga, ele faz o grampo, a informação 90% das vezes chega primeiro nele, depois eles vão na procuradoria, depois no juiz. O Juiz de uma certa maneira, é passivo na investigação, ele autoriza quebrar acordos mas ele não descobriu qual é o telefone que precisam grampear, quem fez foi a polícia. Se eu fizesse uma série na qual o personagem principal está sentado numa cadeira recebendo papel e tomando decisões, o público ia ficar bastante entediado.

Você acha que vai fazer sucesso fora do Brasil?

Eu falei com vários jornalistas da America Latina que perguntaram se eu ia fazer uma temporada em cada país. Na América Latina as pessoas vão entender a lógica da política do Brasil que não é tão diferente assim da política nesses outros países. A diferença é que colocaram um pedaço da constituição americana de delação premiada na lei e lá não. Fora da América Latina eu não sei te dizer mas tomara que sim.

No segundo momento José Padilha, Elena Soarez, os diretores Marcos Prado, Felipe Prado e Daniel Rezende, e os atores Selton Mello, Carol Abras, Enrique Diaz e Jonathan Haagensen, participaram de uma mesa mediada por Hugo Gloss e responderam os jornalistas.

O que é verdade no roteiro que é ficção? (Para Elena, roteirista)

Todas as notícias tinham a ver com a série, eu recortava o jornal e quase não sobrava nada. Depois que você está com os personagens, você já criou o universo, aí a gente realmente se afasta.

Porque a Netflix escolheu esse projeto? (Para Erick, VP de Conteúdo Original Internacional)

Eu gosto bastante do nosso envolvimento em várias produções brasileiras, primeiro 3% e agora O Mecanismo, que tem oportunidade de alcançar um público mundialmente. Como uma companhia, nós gostamos de tópicos interessantes globalmente, não só o que é relevante no Brasil, mas na América Latina, nos Estados Unidos, na Europa. É um tópico cultural e os envolvidos são as as pessoas mais talentosas do mundo, então é muita qualidade e talento envolvidos no projeto.

Como é viver esse vilão tão humano? (Para Henrique Diaz)

Dentro daquele mundo que você vê a complexidade dos personagens. Acho interessante as pessoas viverem essa cumplicidade, que acaba sendo uma questão de moral também. Um cara normal que também empreende atos ilícitos. Se ele ajudar as pessoas a pensar em bem e mau de uma forma renovada, isso vai tocar nos desejos e nas tentações que eles vivem e eu acho que isso faz parte do escopo da série.

Qual o destaque do seu personagem Selton? (Para Selton Mello)

Algumas coisas me encantam nesse personagem, eu acho que tem um lado delegado, de lutar contra o sistema,contra um mecanismo mais precisamente, mas tem um lado cidadão, que eu acho que é aí que o público cola nele. Ele é uma pessoa que quer ver as coisas num estado melhor.

Lembrando que O Mecanismo estreia dia 23 de março na Netflix!

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