As obras de Nelson Rodrigues já tiveram adaptações para vários tipos de mídia nas últimas décadas, no teatro, televisão e cinema. A última delas chega em cartaz no dia 6 de dezembro pelas visão do estreante na direção Murilo Benício.
Acostumado a estar do outro lado das câmeras, Murilo faz uma opção de adaptação que reconhece e homenageia a estrutura teatral do obra “O Beijo no Asfalto” de Nelson Rodrigues. O filme então passa a ter um tom quase documental sobre o processo da adaptação, desde as leituras de mesa, preparação para as cenas até os takes finalizados para o cinema.
Contando com um elenco de peso como Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Débora Falabella, Augusto Madeira e Otávio Muller, o filme é elegante nas escolhas de transição de linguagem e exemplifica a dificuldade de trazer a vida uma obra ficcional. Essa dificuldade que ultrapassou a ficção e se refletiu na distribuição, que segundo o diretor, foi feita sem nenhum patrocínio e com recursos próprios. A justificativa desses obstáculos foi argumentada pelo pouco valor dado à literatura e obras nacionais, e que mesmo nomes como o de Nelson Rodrigues ainda geram receio relativos a apoio financeiro.
Acompanhado de Débora Falabella, Augusto Madeira e Luiza Tiso, Murilo Benício participou de uma coletiva de imprensa na qual respondeu algumas perguntas sobre a obra e sua estréia na direção.
Como foi o primeiro trabalho como diretor?
Murilo –Foi muito corrido, fizemos o filme em 12 dias. Precisávamos saber exatamente como queríamos fazer. Quando você trabalha com atores tão bons, você se preocupa menos. Mas mesmo assim, todas as cenas do filme, menos a da mesa, foram desenhadas para evitar surpresas por falta de experiência.
Quais suas referências para o filme e como foi a preparação?
Murilo – Teve um momento que eu tive a duvida se mudava o nome do filme para “O Beijo – O Processo”, porque queríamos tratar desse processo do ator, por isso trouxemos o Amir Haddad que tem uma capacidade de dar uma outra dimensão aos textos. Eu eu também vejo muitos filmes desde sempre. A primeira coisa que eu faço quando eu compro um filme, é assistir os bônus para ver como é feito tudo aquilo e acho que o publico se interessa e gosta disso.
Débora – Todos os atores que fizeram o filme são de teatro, e o que surgiu espontaneamente foi a ideia de como levar um texto do teatro pro cinema, o que acontece durante o filme. Esse pra mim foi o grande barato, aprender a transitar entre essas linguagens. E não fizemos nenhuma transformação no texto, ele foi feito na integra.
Augusto – O texto do Nelson pra gente equivale-se ao de Sheakspeare. E quase sagrado, ele escreve de um jeito emocional. E se você muda uma palavra de lugar, você muda a emoção do personagem. E o que vocês podem conferir com a gente é todo esse processo, sem se afastar da história.
Luiza – Foi um processo bem interessante. O Murilo foi extremamente generoso, até por ser ator. Para que pudéssemos entender bem o texto e os personagens, e ele deixou a gente bem livre para criar e trazer nossos sentimentos. Foi um presente divino pra mim.
Porque o texto ainda parece tão atual?
Murilo – Nelson é muito atual por falar do humano. Todas as questões que são tratadas no filme são muito humanas. As vezes ouvimos relatos de pessoas que se sentem culpadas por serem quem elas são. Que não se encaixam na sociedade, elas acreditam nisso do tanto que sofrem agressão e preconceito. Isso infelizmente ainda é muito atual.
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