Para qualquer cinéfilo, essa é a melhor época do ano, onde as produções com maior primor artístico são nomeadas, eleitas e consagradas pela crítica e pelos prêmios da chamada temporada de ouro do cinema em Hollywood.
No último dia 22 a Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood ou, simplesmente, o OSCAR, anunciou os indicados para a mais famosa premiação do cinema mundial.
Vamos às análises? VAMOS!!! Hoje, iremos comentar as chances dos dois filmes com mais indicações esse ano: Roma e A Favorita.
Com expressivas 10 indicações, o mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, se tornou, ao lado de O Tigre e o Dragão (2000), do diretor duas vezes vencedor do Oscar Ang Lee, o filme estrangeiro com maior número de nomeações da história da premiação.
O sentimento que paira em Hollywood é que Roma já começou fazendo história e poderá, a julgar pelo recente desenrolar dos festivais, elevar ainda mais essa condição, se no próximo dia 24 de fevereiro “abocanhar” todas as estatuetas que se espera dele. Outro fator que eleva sua condição de grande quebrador de paradigmas, bem como de filme a ser sempre lembrado, é o fato de ser uma produção de plataforma streaming (Netflix), mostrando que a Academia abriu suas portas para esse tipo de produção, ao contrário de Festivais renomados como Cannes, que boicotou Roma de sua competição em 2018.
Mas a força de Roma não vem apenas de tais fatos acima citados, mas de sua qualidade técnica e da ousadia de seu comandante. Cuarón, que não sabe brincar, montou, fotografou, roteirizou, dirigiu e produziu o longa – por este último atributo recebeu dupla indicação: Melhor Filme e Melhor Filme em Língua Estrangeira, já que são os produtores que recebem a estatueta nestas categorias caso se saiam vencedores. A capacidade de Alfonso foi além do esperado ao “extrair” o melhor de seu curto elenco, conseguindo, assim, fazer com que suas excelentes atrizes fossem lembradas pelo Oscar: Yalitza Aparicio à Melhor Atriz e Marina de Tavira à Melhor Atriz Coadjuvante.
Espera-se que, das 10 indicações, o filme mexicano se saia vencedor nas categorias de Melhor Filme em Língua Estrangeira, Melhor Cinematografia e Melhor Direção, a julgar pelos prêmios que vem conquistando, mas sem jamais esquecer da possibilidade de testemunharmos a história sendo escrita na premiação, caso a Academia repita a atitude do Critic’s Choice Awards, quando, além daquelas categorias já citadas, deu o principal prêmio da noite, Melhor Filme, à Roma.
Também com 10 indicações, A Favorita, emplacou entre eles o seu diretor Yorgos Lanthimos, bem como o trio feminino que comanda o filme: Olivia Colman como Melhor Atriz, Emma Stone e Rachel Weisz como candidatas a Melhor Atriz Coadjuvante.
A Favorita é o típico filme que não irá agradar a maioria, seja pelo seu humor muito particular, seja pelo seu desfecho! Todavia, devemos analisar o filme como um todo e exaltar suas qualidades. O trio de atrizes “destrói” em cena! Olivia Colman é uma mistura de insanidade, com inocência, uma criança cheia de autoritarismo perdida em função poder que possui. Atuação soberba da atriz britânica!
Isto a credencia como uma das mais fortes candidatas ao prêmio de Melhor Atriz. Sua grande barreira será destronar a veterana Glenn Close, a qual, apesar de ter no currículo 7 indicações ao Oscar, jamais venceu e vem sendo bastante elogiada e igualmente premiada pelo seu trabalho em A Esposa. Conquistou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama e o Critic’s Choice de Melhor Atriz (prêmio dividido, acreditem, com Lady Gaga). Colman também conquistou estas mesmas estatuetas, porém na condição de Atriz de Comédia.
As indicações desse filme são completamente justas! Talvez seja o único filme que justifica com folga todas as 10 indicações que recebeu. A qualidade técnica é absurda. Os que mais se destacam são aqueles em que ele chega como favorito: o Design de Produção remete ao século XVIII de maneira calculada; cabelos/maquiagens e figurinos são impecáveis – e por falar em figurino, Sandy Powell chega com dupla indicação, já que também foi lembrada por seu trabalho em O Retorno de Mary Poppins. Ou seja, suas chances aumentam, especialmente em favor do filme que tem mais indicações.
Outro que merece ser destacado é o trabalho de Robbie Ryan e sua cinematografia! Seu desempenho atrás das câmeras me fez lembrar aquele feito por Miroslav Ondrícek, em Amadeus (de Milos Forman, 1984). O uso da luz, especialmente nas cenas no escuro, onde as velas ganham destaque, são de encher os olhos. Seu grande desafio é derrubar a genialidade de Cuarón em Roma.
As chances de A Favorita são reais nos trabalhos de montagem e roteiro original. Enquanto que a primeira transforma o longa de 2h em algo fluido – ora com Colman sofrendo de dores, ora com Weisz mostrando seu abuso de poder desenfreado e ora com Stone e sua carinha de nada inocente – o roteiro engrena com um humor calculista, diálogos ácidos e desenrolar reflexivo sobre as personagens desse triângulo feminino.
A montagem encontrará dificuldades contra Hank Corwin (Vice), que é uma edição mais ágil, e Barry Alexander Brown (Infiltrado na Klan), que ganha destaque pelo jogo de cena entre os personagens da trama e, para quem assistiu, sabe que isso foi propício para clima de tensão que o filme ganha, especialmente em seu terceiro ato. Infiltrado na Klan é o meu preferido.
Já o roteiro original é uma incógnita! Paul Schrader, muito elogiado por No Coração da Escuridão, vem conquistando prêmios desde o final do ano passado. Apesar de ter sido lembrado, o filme vem encontrando grande resistência por ser de 2017. Green Book venceu o Globo de Ouro, onde a organização não divide os concorrentes entre Originais e Adaptados e ainda conta com uma importante nomeação ao Prêmio do Sindicato dos Roteiristas da América (WGA). Caso vença essa premiação, suas chances aumentam em relação aos outros concorrentes para o Oscar, já que a Academia historicamente gosta de repetir os escolhidos pelos Guilds (sindicatos).
Próxima semana continuaremos nossas análises dos filmes indicados com Infiltrado na Klan e Nasce Uma Estrela.
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