Stranger Things 3 foi, de fato, um evento do início do mês das férias, uma benção para os muitos fãs da série, que quebrou recordes de audiência desde a estreia de seus novos episódios. Depois de duas temporadas bem sucedidas, a série voltou com grande expectativa do público para um novo capítulo desta narrativa, curiosamente, inovadora e nostálgica. O texto a seguir não tem spoilers, numa tentativa de preservar a experiência dos atrasados, se é que há alguns, visto que Stranger Things é uma das séries de maior audiência do catálogo da Netflix.
Nesta terceira temporada, o portal do mundo invertido, fechado por Eleven na segunda, está prestes à ser completamente aberto, o que facilita a passagem do Devorador de mentes para Hawkins. E a coisa enfurecida com a jovem protagonista, procura iniciar um exército de hospedeiros, bem a cara dos filmes de terror dos anos 80, afim de matar à ela e seus amigos, e de se estabelecer no mundo real. Um dos primeiros sinais desse exército é captado por Nancy e Jonathan, que agora trabalham no jornal da cidade e recebem uma ligação de uma senhora que diz ter ratos “raivosos” no porão, questão responsável por alguns dos momentos mais assustadores e curiosos da trama.
O portal para o mundo invertido está sendo aberto pelos russos, que não intentam apenas abri-lo sem maiores razões além de serem os “comunistas malditos”, mas para, provavelmente, usar as forças monstruosas do mundo invertido à seu favor nos trâmites da Guerra Fria. Assim, Dustin e Steve, talvez a melhor dupla da série, depois de terem acesso à uma transmissão russa através de um sintonizador, decidem traduzir os códigos na esperança de se tornarem heróis americanos, porque os Estados Unidos jamais pretenderiam usar os monstros do mundo invertido também! Ajudados por Robin, que trabalha com Steve em uma sorveteria no shopping, e Erica, a genial irmã mais nova de Lucas, eles tentam adentrar a fortaleza russa que fica embaixo do shopping, onde está instalada a máquina capaz de abrir o portal.
A parte disso, Joyce e o policial Hopper suspeitando uma volta dos monstros do mundo invertido, após ela descobrir a instabilidade dos ímãs magnéticos de sua geladeira e da loja em que trabalha, fato possivelmente relacionado à máquina de grande porte que está abrindo o portal, voltam ao lugar onde estava a abertura para o universo do Devorador de mentes e acabam desconfiando das conspirações soviéticas. Hopper, já importante nas antigas aventuras, se torna ainda mais relevante nas novas, diria até que alcançou um heroísmo tão protagonista quanto de sua filha adotiva, Eleven. Obviamente, de novo vemos a tensão sexual que envolvem o policial e Joyce, personagens que poderiam estar juntos desde a primeira temporada. Nesta, os torcedores do casal se regozijarão com as muitas cenas em que os dois passam juntos.
E por falar em casais, foi um susto ver Eleven e Mike em uma cena muito romântica no início do primeiro episódio: não acho que os beijos constantes dos dois perturbaram somente à Hopper. E esse clima coming of age cerca todos os personagens que, até então, víamos como crianças. Agora os seis valentes são adolescentes e passam por outras questões não-relacionadas ao sobrenatural, como os primeiros relacionamentos e a descoberta da sexualidade, o que pode ter causado estranhamento, sem deixar de fazer sentido.
Nesta temporada, até Dustin tem uma namorada, cuja aparição é uma das melhores cenas da série inteira. E sua dupla, Steve, pode querer outro tipo de parceria com Robin… Apesar dos casais das temporadas passadas, com exceção da continuação da relação conturbada de Joyce e Hopper, as aventuras amorosas de Dustin e Steve foram, porventura, as mais empolgantes.
Sem dúvidas, Stranger Things 3 não faltaria com as várias referências aos anos 80, um dos motivos pelo qual tanta gente gosta da série, afinal o efeito saudoso é, paradoxalmente, um trend. Alusões à clássicos como O Exterminador do Futuro, De Volta Para o Futuro, O Poderoso Chefão e A Mulher Maravilha, aparecem no desenrolar dos episódios de maneira muito natural e divertida, assim como a trilha sonora que conta com hits do pop ao hard rock colocados nos momentos ideais. No fim do episódio 5, a canção We’ll meet again de Vera Lynn deu ao episódio uma atmosfera assustadoramente controversa, tal qual criada em muitos filmes de terror. Ademais, os espectadores podem esperar por outros momentos musicais excelentes no último episódio da temporada.
Mas não só em referências de arte os ares oitentistas da série se fundamentam. A “nova” coca-cola de 85 aparece diversas vezes e Lucas e Mike chegam a debater seu gosto peculiar, que muito desagradou as pessoas na época. Além do conflito, é claro, contra russos malignos, o que poderia ser mais anos 80 que os clichês imperialistas de Hollywood?
A melhor característica da série é a facilidade com que eles construíram, simultaneamente, vários plots diferentes interligados em uma fluidez de narrativa que não cansa ou confunde. Os arranjos da terceira temporada são complicados, todavia, a maneira como se colocam facilita a compreensão da história como um todo. Portanto, os longos episódios são muito bem ritmados e o desenvolvimento não cai em espaços tediosos ou em preenchimentos corridos. Tudo faz sentido. A terceira temporada, apesar de algumas banalidades incômodas, é mais sombria que as outras e até mais interessante para quem gosta de ação e,– quem diria? – romance! À vista disso, os novos episódios de Stranger Things continuam interessantes e a expectativa se volta para os próximos, já que a série aparenta ter no futuro muito mais temporadas.
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