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Crítica | A Vida Invisível (2019)

Um retrato sensível e delicado de relações familiares, sobre o amor, proximidade e distância. A Vida Invisível é um drama carregado de um sentimentalismo latente, mas distante do brega ou apelativo.

A máxima a respeito da imitação da vida pela arte ou vice-versa é um bom ponto de partida na tentativa de significar a narrativa desenvolvida pelo longa; o qual muitas vezes espanta pela brutalidade de uma realidade fragmentada e cheia de tons de cinza entre o branco e o preto da vida.

Um melodrama plástico e intenso

O filme acompanha em seu cerne a jornada de duas irmãs, Guida e Eurídice, já em si mesmas um arquétipo dissonante uma da outra. Enquanto a primeira é uma jovem desinibida e livre, a outra é a representação mais típica da jovem retraída pelo contexto sociocultural em que está inserida; nesse caso, a cidade do Rio de Janeiro em meados do século XX.

Competente a base dos conflitos posteriormente desenrolados pela trama, temos ainda as figuras maternas e paternas das meninas; as quais desempenham fundamental papel nos acontecimentos que de separam os caminhos trilhados por Guida e Eurídice.

Além de uma história apoiada sobre relações fundamentalmente de cunho familiar, outro elemento basilar é a discussão sobre o feminino; como ele seria moldado, desfigurado e ressignificado dentro das estruturas sociais.

Em muitos momentos os questionamentos sobre a posição da mulher em relação ao fiar do tecido social e das relações entre o campo do feminino e masculino são desconfortáveis, ambas irmãs passam por situações limítrofes quando refletimos sobre condições de desumanização do elemento humano.

Mantendo uma grande coerência interna com a construção previamente estabelecida das personagens, o roteiro constrói organicamente caminhos diferentes para Guida e Eurídice; assim como personagens arquetipicamente diferentes, suas histórias são também tematicamente distintas, suscitando a reflexão sobre as relações que construímos e aquelas impostas as nós, mais precisamente pela necessidades que temos em corresponder aos nossos devidos papéis dentro de uma sociedade.

Isso fica ainda mais evidente quando levamos em conta o período histórico retratado dentro da obra. Assim como o verde da natureza tão presente ao longo de todo o filme, A vida invisível é um quadro em movimento extremamente vívido e colorido, mas isso não quer dizer de forma alguma que a suavidade de sua beleza plástica minimize o impacto de uma construção narrativa forte e até mesmo cruel em certos momentos.

Nota: 9

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