“I’m guided by the beauty of our weapons” – Leonard Cohen
O cantor e compositor canadense Leonard Cohen (1934-2016) sempre foi uma incógnita. Considerado pela poetisa e atriz irlandesa Caoimhe Lavelle como o legítimo “bardo moderno”, o autor de “Hallelujah” – sua canção mais famosa – consagrou-se inicialmente na literatura com o romance Beautiful Losers, de 1966; obra considerada uma vanguarda em termos de forma e conteúdo nos círculos literários do Canadá.
No entanto, ainda na década de 1960, migrou para a música com o álbum de estréia “Songs of Leonard Cohen” (1967). Ao mostrar-se dono de um dedilhado particular no violão folk, construído a partir de influências que vão do flamenco à música erudita; nos fez imergir em paisagens poéticas e enigmáticas, expressas em canções como “The Stranger Song” e “Suzanne”.
Na canção – e posteriormente videoclipe – “First we take Manhattan”, primeira faixa do aclamado álbum “I’m your man” (1988), outro procedimento não menos inédito se desenvolve: entre a tragédia e a comédia, o compositor que controla o destino de todos os seres de seu mundo interior torna-se também parte da narrativa.
A canção de quase seis minutos é uma espécie de ópera apocalíptica que toca em temas como religião, terrorismo e tensões geopolíticas em torno da Guerra Fria: os versos “First we take Manhattan/ Then we take Berlin”, à primeira vista, podem parecer tanto menções aos centros culturais e artísticos do século XX, quanto alusões a divisão capitalismo versus socialismo da época.
No mesmo ano, a fotógrafa e cineasta Dominique Issermann grava para a música um vídeo promocional totalmente preto e branco, intensificando ainda mais a aura de misticismo e fim dos tempos transmitida pela música.
Cohen, cuja voz se tornou cada vez mais rouca e grave com o passar do tempo, ora canta, ora recita. Aos moldes do pop oitentista, demarcado pelo uso do sintetizador, instrumento eletrônico muito utilizado na indústria fonográfica da época. A canção, como se quisesse atenuar o sentido de suas estrofes, impõe-se um refrão comercial e quiçá desnecessário, ainda que com referências ao Holocausto: “I love your body, and your spirit, and your clothes/ But you see that line there is moving through the station?/ I told you […], I was one of those”. Mesmo assim, em sua totalidade, “First we take Manhattan” insiste em situar-se num ponto à margem do mainstream.
Em meio à imagens fragmentadas, vemos uma teia de encontros e desencontros. No entanto, aparecem dois casais: um interpretado por Cohen e Issermann, e outro por atores mais jovens. Eles miram-se e põem-se lado a lado na beira de uma praia, olhando para o horizonte incerto que o oceano esconde.
Assim como na Segunda Guerra Mundial, a expectativa acerca de uma catástrofe iminente é recorrente no período da Guerra Fria, intensificada, entretanto, pela problemática nuclear. Cohen, de ascendência judaica, sublima a própria existência permeada pelas duas guerras a partir de sua produção artística.
Na canção, como uma espécie de parca, figura da mitologia grega que controla o destino dos mortais, o compositor vislumbra o destino catastrófico a que se destina a humanidade e tece o começo e o fim de suas personagens. Nesse sentido, reserva-lhes tanto o imenso amontoado de histórias esquecidas, quanto a infinita esperança de que tudo sempre pode melhorar; como Cabíria em “Le Notti di Cabiria”, filme de 1957 de Federico Fellini; ou ainda a morte que possibilita novas reflexões, como a do jornalista Paulo Martins em “Terra em Transe” (1967), filme de Glauber Rocha.
Ao enveredar por esse mesmo caminho, lembremos ainda que o fim de Brás Cubas, conhecido personagem do escritor e crítico Machado de Assis, é, na verdade, o seu começo.
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