“Não é porque você sabe imitar que você consegue entender.”
Quantos silêncios um relacionamento aguenta? Até que ponto a arte preenche os vazios?
Um grande galpão antigo. Estruturas de ferro, madeira e materiais diversos espalhados. Ela (Raquel Karro), uma bailarina. Ele (Rodrigo Bolzan), um artista plástico. Uma fita vermelha demarcando (ou separando) o espaço de cada um.
Esse é o início de “Pendular“, filme de Júlia Murat que ganhou o Prêmio dos Críticos no Festival de Berlim 2017.
O filme trata de dois artistas tentando criar um novo espetáculo e uma nova exposição para suas carreiras. Nesse cenário não há espaço para faz de conta. A visão artística inserida aqui é real, dura, palpável. Sem o glamour idealizado da TV ou até mesmo do cinema. Aqui eles são pessoas reais e sem nome. Os ensaios da dança dela são marcados, repetidos, calculados. A montagem das esculturas dele são pensadas, planejadas, desenhadas. São os erros diários tentando acertar. Assim também é a relação dos dois.
Apesar dos inúmeros silêncios entre o casal, cada olhar diz mais do que se consegue ler. E esse é um dos maiores acertos da direção de Murat. A maneira como a câmera passeia intimamente pelo casal seja na selvageria do sexo, seja nos olhares julgatórios um do outro, revela mais do que precisaria ser dito em palavras. A direção não subestima seu espectador dando tudo mastigado, nada é efetivamente discutido. Os sentimentos de cada um são sentidos por cada um, não há discussão. O joelho ralado ao chegar em casa é resolvido com um curativo e o cuidado de quem realmente se importa, mas em silêncio. Não é porque há uma pergunta que é preciso que haja uma resposta. E há bastante disso no filme a ser absorvido.
A fotografia em tons pastéis embeleza a melancolia do cotidiano dos dois. As cenas escuras e cheias de sombras também são bem utilizadas fazendo que com que vejamos apenas o necessário e o que eles querem que vejamos. Como quem espia pela fechadura a intimidade de alguém. O filme é divido em quatro atos, cada um mostrando a evolução da distância entre o casal perdido em suas artes, tentando acertar a coreografia perfeita entre o profissional e o pessoal. Os ressentimentos do que não foi dito vão ficando mais aparentes a cada capítulo e o silêncio se torna quase um personagem palpável da trama.
É bem verdade que o filme, mais próximo ao final, cai numa zona um pouco incômoda quando um acontecimento torna toda a subjetividade da trama um pouco previsível demais. Mas o filme é tão bem escrito, nos acerta de maneira tão reta, que mesmo o óbvio não é capaz de prejudicar o resultado final. As escolhas da direção, seja em seu papel principal, seja co-escrevendo o roteiro não são óbvias e isso traz um frescor ao tema que procura retratar um relacionamento de maneira mais real e com o pano de fundo da arte desmistificada que, apesar da brutalidade, é impossível não surgir um sorriso ao rosto pelo resultado final.
Nota: 8.5
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