Crítica | Alguma Coisa Assim
Com um curta de sucesso homônimo em 2006, o premiado “Alguma Coisa Assim” chega agora aos cinemas como um longa que promete desenvolver ainda melhor o relacionamento de Mari e Caio, os inseparáveis amigos que descobriam juntos a noite paulistana de 12 anos atrás.
Esmir Filho (Os Famosos e Os Duendes da Morte) volta a direção de seu projeto acompanhado de Mariana Bastos, que co-dirige o filme. Caroline Abras (do premiado “Gabriel e a Montanha” e da série da Netflix, “O Mecanismo“) e André Antunes reprisam seus personagens. A trama conta a história de dois amigos, a descoberta da sexualidade, os conflitos da vida adulta e a constante mudança das coisas, seja no contexto humano, social ou urbano, e tem como plano de fundo a Rua Augusta em São Paulo, conhecida por sua noite de agitadas baladas e mistura de tribos, e Berlim, a plural capital da Alemanha.
A premissa do filme é interessante principalmente para quem é fã ou ao menos conhece o curta de 2006 (que você pode conferir aqui), pois dá mais camadas aqueles dois jovens que se descobriam em constante movimento paralelamente à agitada Rua Augusta.
A experiência, em muitos contextos durante o filme, é de fácil associação a filmes como “Boyhood” e a trilogia de “Antes do Amanhecer“, “Antes do Pôr-do-sol” e “Antes da Meia-Noite“, todos do cineasta americano Richard Linklater. Infelizmente falta um pouco mais de carga dramática em certas cenas, o que contrasta com momentos de excessos de informações que nos perguntamos se era realmente necessário ir por aquele caminho ou se o subentendido não agregaria mais a nossa experiência.
Sobre os atores, o destaque sem dúvidas é para a ótima Caroline Abras. Indicada na última quinta (19) ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (Trofeu Grande Otelo) como Melhor Atriz por seu papel em “Gabriel e a Montanha“, a atriz traz força, nuances e muitas vezes sem dizer uma palavra. Aliás, é aí que ela mais brilha, no que não é dito. Sua personagem não verbaliza suas emoções e angústias, ela lida com o agora, com o que não consegue lidar; ela foge do conflito, vira bicho, monta a defensiva. E é interessantíssimo ver essa construção pois ela é levada ao seu extremo até explodir. Em uma cena do curta ela diz que não chora por nada, e é gostoso acompanhar essa camada ir se rompendo no decorrer do longa. Já o André Antunes é visível ver o amadurecimento e entendimento que ele traz ao personagem de Caio. Ele que era o elo mais fraco no curta, aqui se mostra um pouco mais a vontade, porém em certos momentos parece que ele está numa corda bamba e apenas torcemos para que ele não solte as rédeas de sua própria construção.
Outro acerto do filme foi a escolha das cidades e da trilha sonora. Durante todo o filme temos barulhos de construção costurando a linha temporal que vai e volta entre os tropeços da vida adulta e os dias em que a única preocupação que tinham era o sabor do miojo que escolheriam para o lanche.
O filme ainda aborda temas como casamento, relações tóxicas e aborto, mas não vou me aprofundar no assunto para que não entregar absolutamente tudo do filme, apesar de não ser um spoiler.
“Alguma Coisa Assim” tem ótimos momentos, uma fotografia muito bonita (aliás, uma cena específica me remeteu a um belo momento de “Lavoura Arcaica” de 2001), porém assuntos em demasia que talvez – e digo só talvez – não fossem tão necessários para a história de Mari e Caio. São assuntos importantes a serem discutidos na atualidade? São. Mas o filme daria certo mesmo que fosse para o mais simples, provavelmente daria até mais certo.
Alguma Coisa Assim estreia essa quinta-feira, 26 de julho, nos cinemas brasileiros.
Nota: 7.0