Entrevista | A ascensão de duas jovens estrelas em “As Duas Irenes”
Hoje estréia nos cinemas As Duas Irenes, um filme de Fabio Meira, que conta, sob o ponto de vista de uma garota de 13 anos, a descoberta de que seu pai tem outra família e uma filha de mesma idade e nome. O Cin3filia fez uma entrevista com o diretor, as duas atrizes protagonista e com a atriz que faz a mãe de uma da Irenes do filme. Nossas perguntas estão em negrito.
Como foi o primeiro contato com o filme? Como foi a fase de seleção?
Isabela – Eu nunca tive experiência com teatro, nem com cinema. Eu tinha feito um book para uma agência de modelos em Brasília e o Fábio ainda não tinha encontrado a minha Irene. Ele me achou muito parecido com a Inês Peixoto, que é a minha mãe no filme, então ele me chamou para fazer uma entrevista. A minha família me apoiou, depois fizemos um workshop com 20 meninas que tinham esses exercícios de improviso e acabou que ficamos nós duas (se referindo a Priscila).
Priscila – Eu fiz teatro e ballet clássico e contemporâneo por 10 anos, então já tinha um pouco da arte. Só que eu nunca tive experiência com cinema. E é muito mais contido, jogado pro olhar, porque no teatro é tudo maior, então eu tive que ser muito contida, principalmente porque a minha personagem é o oposto da minha personalidade na vida real.
Vocês interpretam duas garotas de 13 anos do interior. Como foi feita a aproximação com essas meninas, o sotaque e a vivência delas? As questões levantadas no filme são muito diferentes das que vocês vivem hoje?
Isabela – Antes de gravar tivemos uma semana de ensaio com nossa preparadora de elenco, a Verônica Veloso. A gente fez uma conexão com a cidade de Goiás, entre mim e a Pri e isso foi fundamental. E por mais que seja interior é a nossa pré-adolescência. Uma curiosidade da Pri é que o primeiro beijo da cena dela foi o primeiro beijo de verdade e realmente estávamos vivendo aquilo. A gente passa e passou por isso e não é porque é do interior que seja diferente.
Priscila – A gente viveu o filme dentro e fora do set. A gente viveu tudo muito intensamente, mesmo porque a gente não leu o roteiro. Então a gente tinha que estar muito ligadas na história e com os outros atores.
Qual foi a liberdade que vocês tiveram de improviso e o quão rígido era o roteiro?
Priscila – Então, o Fábio sempre dava uma situação para improvisarmos, só que o resto das pessoas que contracenaram com a gente sabia do roteiro, só eu e a Isa que não. Era muito engraçado que a gente estava tão no personagem que acabava falando coisas que já estavam no roteiro a maioria das vezes.
Isabela – Ele (o diretor) vinha falar algumas coisas no meu ouvido, falava no ouvido da Priscila.
Priscila – E a gente contava uma pra outra sem que ele soubesse. Ele só descobriu isso no final.
Vocês pretendem seguir carreira de atriz e qual a ambição de vocês? Cinema, TV, teatro?
Isabela – Eu agora estou morando em São Paulo, estou fazendo um curso no Encena, vou seguir com isso. Preciso só estudar, pegar mais técnica!
Priscila – Eu tô morando na Califórnia agora, então estou fazendo alguns cursos lá. Ainda estou no ensino médio, mas pretendo fazer alguns cursos de produção de vídeo, ver também como é que funciona atrás das câmeras.
Quem são os artistas que vocês se inspiram? Tem um sonho cinematográfico?
Priscila – Eu gosto muito do Johnny Depp. Um sonho seria fazer um filme do Tim Burton.
Isabela – Eu sempre falo da Natalie Portman. Eu ainda não sei, acho muito utópico tudo isso.
Como foi o Berlinale? Como foi a recepção e a oportunidade de estar viajando promovendo o filme?
Priscila – Berlim é uma cidade maravilhosa, foi uma das melhores cidades que a gente foi. A gente nunca tinha ido para a Europa foi tudo muito mágico, a gente chegou lá e as pessoas começaram a nos parar para pedir autógrafo, era coisa de louco .
Isabela – Estar vendo tudo isso está sendo maravilhoso, é como a Priscila disse: é mágico. Berlim é mágico, muita gente no cinema, tinha muita criancinha no cinema. É um país que tem muita cultura e você estar lá, com um filme brasileiro tendo toda essa repercussão foi ótimo.
Fabio Meira (Diretor) – Berlinale foi incrível, não poderia ter sido melhor. Tivemos sessão de autógrafos, elas foram reconhecidas na rua e as pessoas iam falar com a gente. Agora que a gente tá lançando, eu fico vendo elas apresentando o filme sozinhas, eu acho maravilhoso ver duas meninas tão jovens com essa garra, com essa força, é impressionante.
A história tem uma inspiração familiar, como foi a maturação dessa ideia?
Fabio Meira – Essa história surge de rumores que quando criança eu escutei que tinha uma tia que tinha uma irmã com mesmo nome. Mas o que me interessava era ele tendo uma outra filha com o mesmo nome. Mas eu fiquei muito tempo com essa história na cabeça, 15 anos depois essa história voltou e aí eu pensei em escrever um roteiro.
O filme usa da temática das duas famílias pra mostrar diversas camadas de um interior. Qual a importância de mostrar essa história nesse recorte?
Fabio Meira – Para mim o interior é importante, eu gosto desse tempo antigo. Eu acho que a sociedade patriarcal já é uma coisa tão ultrapassada que para mim tinha que estar em uma cidadezinha perdida no tempo. Porque eu acho que esse machismo, a sociedade patriarcal que a gente vive, não pertence mais ao mundo contemporâneo. Embora a gente saiba que ela permaneça. Acho isso muito mágico, esse anacronismo temporal. Ao mesmo tempo que me interessa muito esse tempo lento, essa sociedade cheia de hipocrisia, de não ditos.
Qual a cena ou momento que você tem mais orgulho no filme?
Fabio Meira – Primeiro de apresentar essas duas atrizes, eu fico até emocionado. Tem duas cenas de cada que eu acho fora de série e são cenas que elas atuam sem texto, então não só estou lançando duas atrizes incríveis, mas que conseguem trabalhar no silêncio. A Irene da Priscila sozinha com pai dela no quintal naquela noite na casa principal e Isabela, a outra Irene, naquela segunda cena de cinema. Para mim elas dão um show de atuação.
Como foi o trabalho com as meninas pra que elas chegassem na Irene com o tom certo?
Fabio Meira – O processo foi longo porque foram 250 testes, mas eu já sabia que seriam elas. Mas eu precisava ter certeza. Eram personalidades muito diferentes. A preparadora de elenco, Verônica Veloso, fez um processo de soltar Isabela enquanto eu fazia um processo de conter a Priscila. Por mais que eu trabalhe com isso há 13 anos é meu primeiro longa, então somos os três estreando cheios de coragem.
O filme mostra duas famílias diferentes, uma bem mais regrada e com convenções sociais e a sua que é uma pouco mais “livre”. Como foi a construção dessa personagem que tinha uma filha como a Irene mas que estivesse presente e fosse materna?
Inês Peixoto (Neuza, mãe de uma Irene) – As duas, a Mirinha e a Neuza são de classes sociais bastante diferentes. É bonito como ele põe a Neuza, nessa segunda família, mas como uma mulher batalhadora, costureira, que gosta de cantar, gosta de cerveja, que não tem medo de ser feliz. Ela é livre nesse aspecto, sem amarras sociais dessa convenção do que é ser uma mulher casada. E ela tem uma relação bastante amorosa com essa filha. As duas são amigas, elas se identificam. A Neuza vive na ilusão que ela é a família principal mas ela sabe que ela não é, ela tem uma tristeza velada mas é muito digna, é pelo amor, ela gosta desse homem e ela aceita tudo.
Qual foi o momento mais especial do filme pra você?
Inês Peixoto – O filme traz essas duas mulheres, a Mirinha e a Neuza, e elas sabem uma da outra, é impossível não perceber, e elas trazem ao mundo duas meninas maravilhosas, que são essas duas Irenes incríveis. Elas vão romper com isso, elas vão fazer opção pela verdade, elas não aceitam a mentira. Então acho linda essa virada do feminino que mostra uma geração que aceita contraposta a uma nova que não aceita mais esse mundo de mentiras.
As Duas Irenes chegou hoje, 14 de setembro, nos cinemas e você já pode conferir o que achamos aqui.