Com uma aprovação de 100% no site Rotten Tomatoes, Creep 2 (Estados Unidos, 2017), assim como seu original, passou despercebido pelo grande público, mas é com certeza um dos filmes de terror menos convencionais dos últimos anos.  Depois do primeiro Creep, produção indie de 2015, o diretor Patrick Brice e o ator Mark Duplass, famosos na cena independente americana, voltam às telas com a continuação da história do sinistro e bem-humorado psicopata Josef, interpretado brilhantemente pelo próprio Duplass e sendo agora acompanhado pela atriz de Appropriate Behavior, Desiree Akhaven, no papel da Youtuber Sara.

No filme original, Josef nos é apresentado como um paciente em estágio terminal de câncer que contrata um cinegrafista amador (Patrick Brice) na intenção de filmar alguns de seus últimos dias para que pudesse deixar esse “documentário” para o próprio filho. Gravado ao recorrente estilo found-footage, o primeiro filme se sustentava no angustiante suspense entre os dois personagens, uma vez que Josef, com seu senso de humor sádico e suas ações bizarras, ia se mostrando cada vez mais esquisito e potencialmente perigoso.

Em Creep 2, no entanto, o objetivo do filme não está mais na descoberta da psicopatia do protagonista. O serial-killer Josef, a despeito de todas as suas peculiaridades parece estar sofrendo de um mal comum na pós-modernidade, a crise da meia-idade. Cansado das suas compulsões assassinas, Josef nos revela que está insatisfeito com a vida de homicida, pois o que no começo era sua paixão e motivação para viver, acabou se tornando um trabalho. A partir dessa premissa, é possível perceber o quão surpreendente são os filmes da dupla para muitos amantes do gênero que não esperavam ideias originais num filme found-footage, estilo quase arruinado pelos anos, e com um argumento inicial “mocinho-psicopata”.

Ao contrário da narrativa mais clássica do primeiro filme, em Creep 2, Brice e Duplass preferem se aprofundar mais na mente genial e perturbada de Josef, nos presenteando com uma jornada mais psicológica e reflexiva, mas que não deixa de ser menos cômica ou aterrorizante. Em apenas sólidos 80 minutos, nós conhecemos a trajetória da YouTuber Sara, produtora da websérie Encounters que aborda a solidão e singularidade dos nossos contemporâneos, no entanto atrai pouquíssimos espectadores. Desesperada por mais views, Sara vai ao encontro de Josef, a quem ela conhece muito pouco, mas que promete ser muito interessante para o seu canal. Desta vez, Josef não mantém mistério sobre sua identidade serial-killer e a expectativa não é mais sobre a maneira ou momento de atacar a vítima, mas até que ponto Sara é capaz de chegar para conseguir um bom material para o seu público.

A tensão entre Sara e Josef também toma rumos diferentes do esperado. Ao entrar no jogo insano do psicopata, pensamos que Sara é finalmente a alma gêmea de Josef e é claro que Brice não perde a oportunidade de inserir uma dose de inquietação sexual entre os dois, o que torna o filme ainda mais estranhamente cômico. O mais genial de Creep 2, porém, é que a trama é visivelmente interessante para as nossas questões geracionais, trazendo assuntos que poderiam remeter facilmente as teorias de Bauman sobre a contemporaneidade líquida e ainda sobre como a revolução digital afeta as noções de fracasso e realização dos jovens da geração do milênio. Além disso, é impossível não imaginar o quanto a pateticidade assassina de Josef acrescentaria aos estudos freudianos da primeira metade do último século.

Com atuações difíceis de serem esquecidas e um plot de tirar o fôlego, Creep 2, lançado em 24 de outubro de 2017 no Brasil, conta também com a parceira da Netflix e ainda que esteja longe de ser um filme sem defeitos, merece um espaço privilegiado no cenário do horror.

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