Crítica | Punhos de Sangue (2017)
No último fim de semana de Maio chega aos cinemas de todo Brasil o filme “Punhos de Sangue” ( ou “Chuck”), um filme de ficção sobre a história do lutador Chuck Wepner; o boxeador que foi inspiração para o icônico personagem Rocky Balboa. A história por trás de um personagem é sempre algo fascinante e nesse filme não é diferente.
Com Liev Schreiber vivendo o protagonista, acompanhamos Chuck, um boxeador com ambições de ser grande, famoso e rico, e que de repente, mesmo distante dos seus objetivos, foi inspiração para um personagens de cinema. Não apenas um personagem de um filme hollywoodiano mas de Rocky Balboa, ganhador de 3 Oscars e o personagem que se transformou em um ícone pop por todo o planeta.
Na vida real, Chuck Wepner chegou a estar entre os 10 melhores do mundo na categoria de peso-pesado. Sylvester Stalone se inspirou nele para escrever o personagem de Rocky ao vê-lo lutar contra o inesquecível Muhammad Ali. Uma luta que era considerada fácil demais para Ali, uma luta para acabar em no máximo três rounds mas, contra todas as apostas, Chuck conseguiu aguentar 15 rodadas de pé no ringue.
Wepner era um lutador que tinha um dom especial, não tinha o melhor soco ou a melhor defesa, mas sabia apanhar como ninguém. Ficou até conhecido como o Bayonne Bleeder ( Bayonne é a sua terra natal em Jersey) pela quantidade de vezes que sangrava e que mesmo assim continuava lutando. “The guy could take a punch” – como dito no filme.
Dirigido por Philippe Falardeau, o canadense ganhador de Berlim, soube muito bem trazer a realidade para um filme de ficção. O filme trabalha com imagens de arquivo, muito semelhante ao jeito que a série Narcos trabalhou, como uma forma de legitimar as sequências e trazer a estética de uma época.
Falardeau vai além, e os olhos mais atentos perceberão que a forma como ele decupa seu planos, ou seja, as suas escolhas de enquadramento são uma continuação da estética das imagens de arquivo. Como se ele fizesse uso da própria forma de representação de uma época para falar daquela época, como por exemplo com a utilização de zoom in ( uma técnica marcada demais pelo tempo e pouco utilizada no cinema contemporâneo).
Além disso, a direção de arte está incrível, mostrando quem são seus personagens através dos seus figurinos e dos ambientes que habitam. Assim como a fotografia, que além dos planos, trabalha com textura ( grão remetendo a película), saturação e luzes neon deixando o espectador completamente seduzido pelas seus cores fortes combinadas com um trilha sonora que mistura canções de amor com a ostentação dos anos disco, um belo reflexo estético dos anseios do protagonista da trama.
Além do Liev Schreiber, o elenco conta com Elisabeth Moss, a Peggy Olsen do Mad Men, e a incrível Naomi Watts, duas vezes indicada ao Oscar, todos em atuações excelentes com os seus sotaques impecáveis e típicos da região de Nova Jersey.
Os diálogos também são um ponto muito alto do filme pois são capazes de comunicar muito com pouco, falas que contam quem são os personagens e a forma como lidam com os altos e baixos da vida.
De certa forma, “Chuck” funciona como uma metáfora sobre os nossos tempos: na era da imagem, o que significa ter um personagem inspirado por coisas que você viveu? De que forma e pelo que queremos ser lembrados? Quais chances que deixamos passar e o que queremos de fato da vida?
Nota:9/10