Crítica | Três Anúncios Para Um Crime (2018)

Esqueçam qualquer outro filme de 2017! Três Anúncios Para Um Crime tem os melhores diálogos da temporada, mostrando que seu roteirista, Martin McDonagh, o qual também dirige o filme, não venceu o Oscar de Melhor Curta-Metragem em 2006 (por Six Shooter), exercendo as mesmas funções, à toa. Somente alguém com muito talento e propriedade poderia criar uma trama tão envolvente, extraindo o melhor de seu elenco, seja no drama ou na comédia, afinal, o texto de McDonagh consegue nos emocionar, bem como criar momentos hilários, mesmo diante de uma história tão traumática.

O enredo gira em torno da morte brutal da jovem Angela Hayes (Kathryn Newton) e de como a falta da prisão de qualquer suspeito pelo crime causa revolta em sua mãe, Mildred Hayes (a grande Frances McDormard). Tomada pelo sentimento de indignação, Mildred aluga 3 outdoors localizados em uma das saídas/entradas da cidade de Ebbing, no estado de Missouri, para expressar sua revolta com o Departamento de Polícia local – e chega a ser um deleite visual a cena em que Mildred procura a agência de publicidade (responsável pelos outdoors) que está “cirurgicamente” localizada em frente à Delegacia de Polícia, um take em slow motion que marca a obra. A atitude da mãe em luto desencadeia uma série de acontecimentos na pequena cidade, trazendo consequências irreparáveis na vida dos personagens principais, seja para o bem ou para o mal.

Também não é à toa que o fantástico elenco de Três Anúncios Para Um Crime vem sendo vastamente premiado, seja pelo conjunto (venceu o SAG Awards e o Critic’s Choice Awards de Melhor Elenco), ou pelas atuações individuais, principalmente de Frances McDormand (Fargo) e de Sam Rockwell (À Espera de Um Milagre), mas sem jamais esquecer o grande Woody Harrelson (O Povo Contra Larry Flint), dono do personagem mais carismático do filme. Espera-se que, depois de tantas premiações, aqueles dois primeiros tenham, mais uma vez nessa temporada, seus grandes trabalhados traduzidos em estatuetas com os prêmios das Academias americana e britânica. O pouco aproveitado papel de Peter Dinklage (Game Of Thrones) ainda consegue ter algum propósito moral, mas sem que o ator possa mostrar o talento que já conhecemos.

Mesmo diante DISSO TUDO, a Academia inexplicavelmente não reparou ou simplesmente ignorou o ótimo trabalho de direção de McDonagh, findando por excluí-lo do seleto grupo dos 5 finalistas na categoria de Melhor Direção. Mas, certamente, desprezá-lo na de Melhor Roteiro Original (já que aqui ele foi lembrado) seria de um erro grotesco, especialmente diante de seus medianos concorrentes “A Forma da Água”, “Lady Bird”, “Corra!” e “Doentes de Amor”. Prefiro ter a crença que a Academia o excluiu dos 5 melhores diretores do ano para premiá-lo pelo seu incontestável talento como escritor. É verdade que em seu terceiro ato ele quase se perde com acontecimentos pouco prováveis e com um desfecho que se delonga além da conta, mas o mesmo não possui força suficiente para derrubar o que foi construído ao longo de 115 minutos da obra.

Ao longo da projeção, se torna impossível esquecer a semelhança no trabalho de Martin com aquele desenvolvido pelos irmãos Coen. O humor negro em personagens que, por força de suas limitações intelectuais, apresentam a veia cômica necessária para quebrar o peso de outras cenas mais fortes. Talvez por isso (momento curiosidades!) Frances tenha aceitado o papel de Mildred, pois lembra bastante os trabalhos anteriores feitos pelo seu marido, Joel Coen, bem como pelo seu cunhado, Ethan Coen.

Três Anúncios Para Um Crime é, sem dúvidas, um dos grandes filmes do ano, tem um elenco de estrelas que são muito bem dirigidas e é um deleite no campo da escrita, com diálogos que vão do ácido ao hilário. É, ainda, um longa sobre vingança, mas também sobre redenção, perdão e amizade, sem esquecer o legado moralmente positivo deixado por um de seus personagens e que devemos levar para a vida. Aqui há uma clara exposição do talento de Martin McDonagh que já havia apresentado suas credenciais depois de Six Shooter e Na Mira do Chefe, mas que, com este título conseguiu, de uma vez por todas, colocar seu nome na história.

Nota: 9,5

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