Crítica | Me Chame Pelo Seu Nome (2018)

Existe uma nuvem de curiosidade que paira sob os filmes de temática homossexual. Não pela opção sexual retrada em tela, mas pelo desenvolvimento que se espera do seu principal comandante (diretor) aos seus comandados, especialmente o elenco, e o resultado final dessa soma. Será verossímil? Será convincente? Será emotivo, tocante? No caso de Me Chame Pelo Seu Nome, a nuvem que paira sob ele é a do “poderia ser melhor”, se não fosse por algumas escolhas que incomodaram, adotadas pelo seu diretor e que amarram em demasia a dinâmica do longa.

O roteiro do experiente (e octogenário em plena forma) James Ivory, baseado na obra de André Aciman, se passa nas paisagens bucólicas do norte da Itália, onde o jovem e inteligente Elio (Timothée Chalamet, Interestelar) só precisa se preocupar em como melhor aproveitar o verão europeu. Tímido, o rapaz busca refúgio em suas músicas e na leitura. Todavia, mesmo que de maneira bastante sutil, a empolgação pela chegada do aluno de seu pai (Michael Stuhlbarg, Um Homem Sério), Oliver (Armie Hammer, A Rede Social), é notada pelo interesse que incomoda Elio em função do jeito desleixado de Oliver.

Se há um grande acerto na direção de Luca Guadagnino (Um Sonho de Amor), esse diz respeito ao seu trabalho de suporte na composição do personagem de Chalamet. Este não só desempenha um grande trabalho, assim como, apenas com suas expressões faciais e corporais, o garoto de apenas 22 anos, consegue provar, sem sombra de dúvidas, que ele pode construir uma carreira invejável nos próximos anos. É convincente, talentoso, destemido e, com isso, compôs uma das melhores performances do ano, deixando para trás outros experientes nomes de 2017.

Se a direção de Guadagnino é eficaz em extrair uma impressionante atuação de Timothée, o mesmo não pode ser dito a respeito de Hammer. Aqui, ele surge e desaparece sem deixar nada memorável quanto à sua interpretação, a qual sempre se remete a uma estranha voz robótica. O que falta em seu personagem, e que poderia ter ficado a cargo próprio de composição, seriam alguns trejeitos que denunciassem sua verdade íntima. O papel poderia ter sido dado a alguém com mais capacidade.

Um dos momentos mais marcantes para o cinema de 2017 fica sob a responsabilidade de Michael Stuhlbarg e seu inspirador monólogo de ensinamento ao filho, mostrando uma evolução de pensamento em uma época de muitas dúvidas e preconceitos, mas que serve perfeitamente para os dias de hoje. Esse monólogo, por si só, tem o poder de colocar James Ivory como grande favorito ao prêmio de Melhor Roteiro Adaptado no próximo Oscar e é muito improvável que a Academia não premie o diretor de outros sucessos como Vestígios do Dia, Retorno a Howard’s End e Uma Janela Para o Amor. Premiá-lo com a estatueta seria como um reconhecimento pelos anos dedicados à sétima arte.

Porém, no que diz respeito a mais um quesito negativo da projeção, sem dúvidas, ela é prejudicada pela falta de continuidade, com uma edição que, às vezes, parece se preocupar mais em causar danos ao filme do que lhe dar algum sentido e ritmo agradável. Alguns cortes e não possuem sentido algum, não acrescentam absolutamente nada, tornando-o cansativo – e isso tem grande partakes cela de culpa na conta de seu diretor e principal idealizador.

Com uma notável canção, a qual concorrerá com outras 4 no Oscar 2018, o espectador é facilmente envolvido pela letra e arranjos de seu compositor, Sufjan Stevens. A Academia acertaria em cheio se premiasse o trabalho dele, pois “Mystery of love” é absolutamente tocante.

Me Chame Pelo Seu Nome é um filme que consegue criar uma atmosfera triste quanto ao futuro de seus personagens: um esconde seus desejos mais íntimos, vivendo de acordo com o que manda a cartilha da década de 1980; já o outro, que tem total apoio de seus pais, em uma época de preconceitos familiares ainda mais fortes, não pode desfrutar do amor que tem por força das barreiras impostas pela distância e pela sociedade.

O mundo de Elio e Oliver pareceu perfeito, mas apenas e tão somente em uma bucólica casa de verão no norte da Itália – e para tornar as coisas ainda mais tristes, Guadagnino encerra a projeção deixando o eficiente Chalamet colocar para fora, mais uma vez, sua decepção com tudo aquilo, decepção esta compartilhada pelo espectador, seja pelo destino dos personagens, seja pelo (antes potencial) filme que (agora) deixamos de assistir e que escorregou em escolhas mal feitas.

Nota: 7,5

 

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