Hush – A Morte Ouve: Um terror psicológico com representatividade

A partir de hoje (22) escreverei quinzenalmente comentários não muito pretensiosos, sobre filmes de terror/suspense/gótico, entre clássicos e contemporâneos, bons e ruins – e às vezes bons pois ruins – de psicológicos à trash, de Hitchcock à James Wan. Espero que gostem!

Seguindo o sucesso dos filmes com psicopatas mascarados aterrorizando a noite de mocinhas em casas no campo, Hush – A Morte Ouve (2016) consegue transformar uma premissa recorrente em um filme que vai não apenas divertir você, mas permanecer na sua memória mesmo depois dos créditos finais. Lembra um pouco o interessante Os Estranhos (2008) que conta com a Liv Tyler no elenco, mas que acaba pecando muito no roteiro e é demasiadamente influenciado por símbolos da cultura pop que são quase impossíveis de usar sem cair no clichê. Hush – A Morte Ouve se salva de certas previsibilidades, no entanto.

Uma jovem escritora surda (Kate Siegel) vive reclusa no campo na tentativa de terminar o seu novo livro, quando é atormentada por um estranho mascarado (John Gallagher Jr). Ao perceber que a vítima se trata de uma mulher com uma deficiência física, o psicopata decide tirar a máscara – infelizmente – e fazer com que Maddie leia os seus lábios no intuito de matá-la apenas quando ela quiser morrer. O caso é que o assassino, assim como o telespectador, está muito enganado ao pensar que Maddie seria uma presa fácil. Diferente da maioria das heroínas dos filmes do gênero, ela não é estúpida e superficial, mas uma protagonista por quem vale a pena torcer.

Nossa mocinha, Maddie, perdeu a audição por consequência de uma meningite contraída na infância e o único som que ela acessa em sua memória é a voz de sua mãe. Sendo assim, tudo parece leva-la a ser muito fácil de matar, mas surpreendentemente, o silêncio pode ser mais mortal para o assassino desajeitado do que para ela, além de ser um elemento muito interessante e bem usado no filme. Nós estamos sempre passando do mundo silencioso de Maddie ao mundo barulhento do psicopata em transições que ajudam muito a construir o nível de tensão e adrenalina da narrativa. Ao invés da usual trilha sonora de suspense sem muito planejamento, o longa produz uma sonoridade legal de experienciar com bons fones de ouvido. Apesar de não contar com diálogos relevantes, o que nos faz questionar se era realmente necessário que o adversário se livrasse da máscara, a voz da mãe na cabeça de Maddie é um recurso que nos aproxima mais da protagonista e é de extrema importância para o plot do filme.

Colocar uma heroína surda tão inteligente e forte como Maddie em um filme que atende a um gênero majoritariamente masculino já é alguma coisa, mas teria sido uma representação mil vezes mais eficiente se o diretor, Mike Flanagan, tivesse considerado um recorte no elenco e contratado uma atriz realmente surda. Depois de sucessos como Switched at Birth e Filhos do Silêncio, não pode haver a desculpa de que a comunidade surda não seja capaz de atuar em grandes produções e isso é um defeito notável de Hush – A Morte Ouve. Siegel realiza um trabalho impressionante no filme, de qualquer forma, o que não se pode dizer da atuação tediosa e nada interessante de John Gallagher Jr. Algo que faria de Hush um filme fantástico, seria terem construído um assassino à altura da heroína e trabalhado mais a interação entre os dois, que não precisariam de diálogos com palavras de fato para desenvolverem uma tensão psicológica.

Mesmo com defeitos perceptíveis e uma fotografia meio ordinária, Hush – A Morte Ouve não é nenhum possível clássico, mas é um ótimo filme e em poucos minutos consegue manter uma fluidez agonizante necessária em produções desse estilo, além de não se estagnar nos estereótipos que cercam pessoas com deficiência e inverter o posto de estúpida impulsividade para o lado onde comumente se espera o contrário. Com uma aprovação de 94% pelo site Rotten Tomatoes, Hush – A Morte Ouve é sem dúvida um dos poucos filmes mainstream de terror que realmente valem o seu tempo.

 

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