Coluna | Juventudes Roubadas: Quem foi Vera Brittain

Juventudes roubadas, estrelado por Alicia Vikander (Tomb Raider) e Kit Harington (Game of Thrones), trata-se de uma história real, baseada no livro das memórias de Vera Brittain –Testament of Youth– sobre a Primeira Guerra Mundial. Muito além de um romance, o filme mostra a difícil jornada de uma mulher a frente do seu tempo.

De início, vale ressaltar que, no começo do século XX, apesar de mulheres já serem aceitas em algumas universidades, seu ingresso era dificultado e malvisto. Todavia, Vera Brittain, nascida em família bem dotada, sonhava em entrar na Universidade de Oxford e se tornar escritora, tendo o dinheiro e a determinação. Mas, é claro, enfrentou muito preconceito e foi menosprezada inúmeras vezes pelo simples fato de ser mulher. Durante seu percurso, sempre teve apoio do irmão, e por causa dele –que frequentava à Oxford– conheceu Roland Leighton, um jovem universitário com quem viveria um romance instigante e repleto de limitações devido à Grande Guerra.

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Vera e Roland em cena de Juventudes Roubadas

Os filmes que retratam a guerra são muitos. Em todos eles nos são mostrados o sofrimento, a destruição e a desolação humana, principalmente dos soldados que viveram na linha de frente esse conflito. No entanto, muitas vezes a história de quem ficou para trás é deixada de lado. É nesse sentido que Vera Brittain retrata suas memórias: sob a perspectiva de uma mulher –não permitida em campo de batalha na 1º Guerra Mundial– horrorizada com a crueldade humana e impossibilitada de ir à linha de frente ajudar.

Por esse motivo, Vera largou Oxford, por não suportar a ideia de permanecer inerte a tudo que acontecia,  e se tornou enfermeira, atuando no campo de batalha. Com o fim da guerra, sua visão de mundo estava completamente modificada, e encontrava muita dificuldade para adaptar-se ao mundo pós-guerra. Estudada e letrada, ela encontrou nas palavras sua maior força de expressão. Tornou-se, então, uma forte pacifista e feminista no período  do entreguerras –momento histórico para o movimento sufragista na Inglaterra.

Em uma cena forte e emocionante, Vera Brittain sobe ao palco de uma pequena reunião, onde discursos de ódio estão sendo propagados contra os alemães, e faz sua voz ser ouvida:

“Eu não consigo enxergar sentido nisso. Exceto que, quando eu segurei a mão daquele alemão, era a mão deles que eu também segurava. A dor deles [alemães] era a mesma dor que a nossa [ingleses]; o seu sangue, era o mesmo. O nosso luto, é o mesmo luto de centenas e milhares de mulheres e homens alemães. Eu falo para aqueles que foram deixados para trás: mães, irmãs e mulheres, nós enviamos nossos homens para a guerra. Eu briguei com meu pai para deixar meu irmão ir –porque nós pensamos ser a coisa certa a fazer, o honrável. E tudo que eu faço agora é estar aqui e perguntar a vocês: será mesmo a coisa certa? Enquanto escrevo, eu posso encontrar coragem para aceitar que pode existir outro jeito. Talvez a morte deles apenas tenha significado se nos unirmos agora para dizer ‘não’. Não para matar. Não para a Guerra. Não para o infinito ciclo de vingança. Eu digo: não!”

E com esse imponente discurso, Vera Brittain nos convoca a refletir e, essencialmente, a agir. Mais uma grande mulher que rompeu com a sua insignificância dentro de uma cultura patriarcal, e fez da sua voz a mudança.

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Cena do discurso de Vera Brittain

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