Crítica | Dickinson (2019)

Em meio a uma imensidão de dramas densos com 60 minutos usuais de duração; Dickinson é um respiro de leveza com seus 30 minutos descontraídos, embora não descompromissados. A série estrelada por Hailee Steinfeld e criada por Alena Smith é uma das apostas de estreia no catálogo do recém chegado Apple TV +.

O argumento da história nasce a partir dos poemas da própria poetisa da qual a série pretende construir um retrato biográfico extremamente estilizado e sem grandes compromissos históricos. Sem partir de uma natureza extremamente realista, embora a reconstituição de época e o design de produção sejam impecáveis, a narrativa tem um texto rápido e cheio de marcas de uma linguagem contemporânea. Às vezes chega até a brincar com o uso da linguagem esperada de uma obra ficcional de época, misturando com gírias comuns e de uso contemporâneo.

Assim como no texto, a edição, atuações e especialmente trilha sonora são extremamente bem executadas e tem uma formatação contemporânea. Existe sim uma estranheza principalmente nos primeiros momentos com essa mescla do novo com o velho, mas passado um tempo, a história acaba envolvendo o espectador que passa a naturalizar essa narrativa incomum.

O maior conflito da série é na verdade uma possibilidade de discussão sobre a posição social da mulher, nesse caso em uma sociedade no meio dos Estados Unidos em meados do século 19, é partindo desse lugar que a série cria uma Emily Dickinson combativa e forte, determinada a se tornar a maior poeta de todos os tempos. O aspecto fundamental em relação a Emily é a sua forte ligação com a família, especialmente com seu pai, que obviamente se opõe energicamente sobre mulheres que, segundo ele, “tentam construir reputação literária”. Completando o núcleo familiar primário temos a mãe de Emily e seus dois irmãos Lavínia e Austin.

Além de trabalhar o papel feminino, em alguns momentos a série toca em outros temas delicados como racismo, morte e o amor entre pessoas do mesmo sexo, sempre de maneira sútil e bem dosada. Em momento algum  Dickinson perde o equilíbrio narrativo, mesmo tendo um arco que progressivamente toma um tom mais sério e maduro sobre os pontos que levanta ao longo da temporada. As sequências mais psicodélicas e distantes da realidade inclusive tem um charme próprio e em geral tem um motivo narrativo, movendo a história em frente.

Dickinson é uma série que ganha o espectador aos poucos, com tranquilidade e uma narrativa fácil e muito bem dirigida, um bom texto e uma estética de encher os olhos. Diverte a medida em que desenvolve os personagens e apresenta situações, dosando bem o nível de estranheza que resolve por em tela. Já com uma segunda temporada em produção, é uma ótima opção para quem pretende fugir dessa seriedade sisuda, da maioria das série de ponta. Os dez episódios, trinta minutos em média, passam rápido e podem ser maratonados com facilidade.

Nota: 9 

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